Foto: Jørgen Bo
Faria hoje 100 anos e deixou-nos com saudades há 36!
Podemos aqui vê-lo e ouvi-lo, em Copenhaga (1970), o som inconfundível.
No piano, outro mestre grande: Teddy Wilson!
E veja-se só como Ben dá o tempo! (Ah!... assim está bem!)
E o standard (glorioso) sabe-se de cór.
Vai um blindfold test?
...e ainda, como curiosidade, a capa original (e as liner notes) do LP de Rugolo...
...bem como a reprodução das próprias Faces A e B do mesmo LP...
Cá está mais uma boa oportunidade para ouvir excelente jazz ao vivo num dos locais de culto de Nova Iorque: o Village Vanguard.
Desta vez, o saxofonista de que vos falo é o porto-riquenho David Sanchez, um dos músicos mais em destaque na Grande Maçã e não apenas em relação à cena vulgarmente etiquetada de “jazz latino”.
De novo a partir do site da estação da NPR (e em concreto da estação de rádio WBGO, já aqui referida várias vezes), os visitantes terão a oportunidade de ouvir em streaming audio ou fazendo descarga para o computador para escutar mais tarde, a actuação de há três noites atrás (17.03.09) pelo Quarteto de David Sanchez – com o guitarrista norueguês Lage Lund, o contrabaixista britânico Orlando LeFleming e o baterista também porto-riquenho Henry Cole – num conjunto de 5 peças que evidenciam as qualidades de todos os participantes.
Essas peças, com uma única excepção, são todas saídas da pena de Sanchez: City Sunrise, P’ra Dizer Adeus (Edu Lobo), Ay Bendito, The Forgotten Ones e Cultural Survival.
Boa escuta!
Cá está mais um vídeo da série realizada por Bret Primack. E que vídeo, ele tem desta vez para nos oferecer!
Dedicado fundamentalmente ao malogrado Michel Brecker, nele poderemos ouvir um excerto de uma entrevista ao grande saxofonista e um longo e fabuloso solo (actualização: sobre There is No Greater Love), em parte acompanhado apenas pelo tempo fenomenal do contrabaixo de Rufus Reid e captado durante uma actuação da primeira formação do Saxophone Summitt (que chegou a vir a Portugal com Joe Lovano, David Liebman, Phil Markowitz e ainda Billy Hart), no mítico Birdland de Nova Iorque. Indispensável!
There Will Never Be Another Michael Brecker!
Não é a primeira nem a segunda vez que dou por mim a pensar sobre o trágico desfazamento que cada vez mais se arrisca a existir entre os que escrevinhamos sobre o jazz e aqueles que, convém recordar, se encarregam de criar as obras sobre as quais nos entretemos a discorrer: os músicos propriamente ditos.
E, já agora, como não nos espantarmos quando continuamos a pressentir, mesmo que já só nas entrelinhas – ou seja, naquilo que a superficialidade, o desmazelo ou o oportunismo da escrita deixam passar por entre as palavras – recorrentes tensões mal disfarçadas ou raciocínios estreitos, que surdamente persistem na divisão dos campos entre alegados “conservadores” e pretensos “vanguardistas”!
Como se a discussão acerca do jazz, nos nossos dias, fosse ainda sustentável (por uns e por outros) a partir dos velhos pressupostos de um confronto estético entre, por hipótese absurda, a cena mainstream e a cena free ou entre os apressados denunciantes do que julgam apenas ser o jazz escrito e estruturado (sacrilégio supremo!) e os que puxam da pistola face à música dita livre e aleatória (intolerável aleivosia!).
Por estranho que pareça, parece que permanecemos numa espécie de Idade da Pedra no que diz respeito à análise do estado desta arte, não nos dando conta de que, questões como estas, há muito estão (deviam estar) ultrapassadas, tanto quanto a própria definição rigorosamente escolástica de um domínio musical, o jazz, que ciclicamente nos esquecemos de acompanhar na constante dinâmica que sempre foi seu timbre: essa imparável evolução, sucessão de rupturas, apropriações e formulações de sínteses que, alimentando-se da constante ambivalência entre o que é reconhecível e o que é novo, só futuras visões retrospectivas nos têm ajudado (e assim continuarão a ajudar) a apreender, primeiro, e a caucionar ou a rejeitar, depois. O mesmo sendo verdade quanto a certos aspectos, certamente técnicos mas indubitavelmente lúdicos desta música, por exemplo o próprio conceito de swing – hoje cedendo o passo a posturas, práticas e afloramentos rítmicos muito diversos, embora ainda e sempre indefiníveis no seu permanente mistério – ou quanto à própria postura e movimentação dos corpos em palco, já que tudo é hoje muito diferente em termos de ataque e articulação instrumental, conteúdo e sua intenção expressiva ou até história e estórias que dali de cima nos são contadas.
Devo confessar-vos, então, que foi sempre em meio deste turbilhão de cogitações dispersas e fragmentadas, já de si vistas e revistas em múltiplos e simultâneos flashbacks, que assisti (como já se percebeu: apaixonado, irrequieto mas não necessariamente inquieto) ao concerto a todos os títulos notável e significante que, no Braga Jazz '09, o quinteto que de forma sábia assumiu a designação Dual Identity realizou no palco do Theatro Circo, naquela que foi a segunda de três actuações que preencheram a primeira parte do festival deste ano.
Comecemos por reconhecer que o nome-de-guerra Dual Identity é, de facto, um achado de aguda oportunidade (e, ao mesmo tempo, uma panóplia de significados e um mundo de potencialidades), pelas múltiplas vertentes que logo à partida possibilita. Em primeiro lugar, porque associa na “frente de sopros” dois saxofonistas de primeiríssima água: o cada vez mais maduro e soberano Steve Lehman e o sempre aventuroso e surpreendente Rudresh Mahanthappa; depois, porque, tocando ambos sax-alto (mas buscando e encorpando o som de forma inteiramente diversa), essa identidade dual mais facilmente se constrói (e ao mesmo se desconcerta e conflitua) na permanente e criativa interacção dos dois grandes músicos, em primeiro lugar; de ambos com os restantes três companheiros de palco, em segundo lugar; e finalmente, ideal dos ideiais, de todo o quinteto com o próprio público!
Melhor ainda: essa tal identidade dual, assim entendida, não é susceptível de desvendar-se, apenas, a um nivel puramente instrumental (a face mais audível, material e imediata dos dois saxofonistas), o que nos leva a poder imaginar que, tivessem estado lado a lado um tenor e um alto, e jamais a dualidade teria sido esta mas sim outra! Mas ela deixa-se descobrir, ainda, em termos conceptuais, fornecendo sempre adubo a um terreno movediço, por vezes aplanado num aparente continuum em largas passagens de uma música altamente rigorosa e estruturada, outras vezes eriçado, nas escolhas e pelos escolhos individuais e colectivos, através de desbragadas improvisações sem fim à vista, crescendi de grande intensidade e à beira de entusiasmantes situações de climax, naquela que foi a revelação e a explanação de uma outra e nova forma de disseminar a acumulação de uma cultura jazzística específica e inequívoca, com as suas várias tradições, ainda capaz de integrar, de forma dispersa, sinais de culturas-outras, como a judaica ou a hindú, que também estão nos genes desta Dual Identity.
Esta pareceu ser, de resto, uma imagem de marca dos músicos deste quinteto, no âmbito do qual é preciso salientar ainda o poder expressivo e a desmultiplicação e descentragem rítmicas de Damion Reid (bateria) ou a “pedrada”, potência sonora e mobilidade técnica de Matt Brewer (contrabaixo), apenas Liberty Ellman se mostrando, aos meus ouvidos, algo menos inspirado na sua guitarra do que já lhe ouvi em outros contextos.
Não se depreenda, entretanto, desta passagem mais absorvente e entusiástica da presente crónica, que tudo foi para mim absolutamente inteligível na música que ouvi ao Dual Identity. Julgo, aliás, que em total consonância e coerência com o que atrás ficou dito, só daqui a algum tempo poderemos sopesar, com maior nitidez, as subsequentes descobertas, os múltiplos desvios ou as várias interrogações que, felizmente, um tal jazz não deixa de levantar. (1)
O que é, porventura, a melhor homenagem que, desde já, se lhe pode prestar e aos seus protogonistas, face a esta manifesta recusa colectiva da preguiça.
Na realidade, e parafraseando o Outro a pretexto do estado jazz, o certo é que... “ele move-se!”
__________________________________________
(1) Apontamentos “para memória futura”:
– The General (Liberty Elman-Rudresh Mahanthappa)
– Rudresh.com (Steve Lehman)
– Foster Brothers (Steve Lehman)
– Katchu (Liberty Elman)
– Circus (Rudresh Mahanthappa)
– Ess Emm Ess (Rudresh Mahanthappa)
– Post-Modern Pharoahs (Steve Lehman)
– Overture Ballad (Steve Lehman)
– Beyond All Limits (Steve Lehman)
– 1010 (Rudresh Mahanthappa)
__________________________________________
Em planos interpretativos diferentes e com intenções composicionais inteiramente distintas, estiveram ainda no palco do Theatro Circo os outros dois grupos que completaram o cartaz da primeira parte deste Braga Jazz '09, a que pude assistir.
Logo na noite de 5ª. feira 5, alguns dos nossos mais talentosos jazzmen – Mário Laginha (piano e Fender Rhodes), Nelson Cascais (contrabaixo) e o há muito "nacionalizado" Alexandre Frazão (bateria) – completaram o quarteto do guitarrista André Fernandes, em mais uma apresentação de parte substancial do seu novo álbum Imaginário (Tone of a Pitch, 2009).
Com resultados necessariamente diversos dos que recentemente marcaram o concerto de lançamento do álbum no grande auditório da Culturgest – até porque, além dos já mencionados, o concerto teve então a colaboração de alguns convidados especais (como se pode ler aqui) – o Quarteto de André Fernandes esteve, mais uma vez, em plano superior (nalguns casos, mais próximo até do próprio conceito do disco) e constituiu um excelente arranque para o festival.
Ficaram, por exemplo, a bailar-me na memória (entre outras passagens) toda a versão de O Ar, com uma introdução de grande fôlego harmónico de Laginha, divagando incessantemente por vários centros tonais, e a belíssima associação dos teclados à guitarra acústica de Fernandes ou o crescendo arrebatador de uma outra peça familiar (Trinta Dias ?) cujo título não foi mencionado, a anteceder um solo vertiginoso do guitarrista na improvisação sobre uma forte versão de Imaginário.
Por último, estava eu pessoalmente convicto de que, no sábado 7, Gianluigi Trovesi encerraria os primeiros concertos do Braga Jazz '09 com aquela dose de boa disposição e jovialidade (mas também invariável surpresa) que caracteriza muita da sua música. Sem dúvida que, a espaços, elas não deixaram de estar presentes no auditório do Theatro Circo, bem como um certo espírito, sempre singular e desalinhado, do jazz e da música improvisada de Itália. Mas o multi-instrumentista que me habituei a admirar em vários concertos já ouvidos entre nós, fez-se desta vez acompanhar por músicos cuja qualidade geral nem de longe correspondeu ao que poderia esperar-se.
Massimo Greco, o trompetista, várias vezes atarantado esteticamente, ultrapassou em espalhafato o que lhe minguou em imaginação, enquanto Marco Michelli (contrabaixo) e Vitor Marionni (bateria) foram de uma sensaboria e “normalidade” que chegaram a afligir. E mesmo Fulvio Maras, emérito percussionista de primeiro plano, pareceu render-se mais à tentação e à “facilidade” da electrónica em detrimento da percussão acústica, na qual é rei e senhor.
No fundo, no fundo, apenas o próprio Trovesi – em particular, na forte sonoridade do sax-alto – e Roberto Cechetto em certas passagens atribuídas à guitarra, foram os únicos músicos igualmente à vontade num repertório simultaneamente “dentro” e “fora” do jazz (como é típico de muitos grupos italianos) mas desta feita demasiado incaracterístico para que nos tivesse devolvido a sua habitual genuinidade.
Ficará, sem dúvida, para uma próxima oportunidade!
__________________________________________
Braga Jazz '09
Theatro Circo
05.03.09 - André Fernandes Quarteto
06.03.09 - Dual Identity Quintet
07.03.09 - Gianluigi Trovesi Sextet
Próximos concertos:
13.03.09 - Gerald Cleaver's Violet Hour
14.03.09 - Marta Hugon Quinteto
Depois de um ciclo preenchido com concertos portugueses – dos quais ficou a saudade de Sheila Jordan no HCP – Um Toque de Jazz vira-se, de novo, para os grandes concertos internacionais, mais uma vez fazendo a cobertura de festivais importantes ou de actuações isoladas. É uma informação que aqui chega com um certo atraso motivado por distracção (!), assim se provando que nem sempre os blogs reflectem os "umbigos" dos seus autores.
Desta vez, entre as experiências de músicos canadianos à volta das músicas de Bach, Byrd ou Schönberg e o recital a duo por Enrico Rava e Stefano Bollani em Atenas, haverá muito por onde escolher: os saxofones tão diferentes de David Murray, Mark Turner e Rudresh Mahanthappa, o quarteto de Michael Blake homenageando Lucky Thompson, o quinteto de François Corneloup revelando obras originais e o jazz contemporâneo britânico com a New Orchestra do contrabaixista Barry Guy a tocar uma obra invulgar de Evan Parker.
Um Toque de Jazz é transmitido aos domingos, das 23:05 às 24:00, na Antena 2 , podendo ser ouvido em FM ou ainda aqui, via webcast. Após a sua transmissão, os programas passam a estar disponíveis, também via Internet, na página de arquivos multimédia da Antena 2.
__________________________________________________________________
Domingo, 01.03.09 – Concertos Internacionais (1) – O quarteto de Michael Blake (sax-soprano, tenor e clarinete) com Soren Kjaergaard (teclados), Jonas Westergaard (contrabaixo) e Kresten Osgood (bateria) num repertório dedicado a Lucky Thompson na Casa da Rádio Dinamarquesa (Copenhaga) em 08.11.06; e o sexteto de Nils Wülker (trompete), Johannes Enders (piano), Myron Walden (sax-tenor), Joe Locke (vibrafone), Martin Wind (contrabaixo) e Andi Haberl (bateria) no Landeskulturzentrum (Bad Salzau) em 29.06.07.
Domingo, 08.03.09 – Concertos Internacionais (2) – O quinteto “Next” de François Corneloup (sax-soprano e barítono) com Dominique Pifarely (violiono), Dean Magraw (guitarra), Chico Huff (guitarra-baixo) e J.T.Bates (bateria) no Teatro Municipal de Nevers em 15.11.07; e o quinteto de Rudresh Mahanthappa (sax-alto), Kasper Tranberg (trompa), Jacob Anderskov (piano), Carlo DeRosa (contrabaixo) e Anders Morgensen (bateria) no clube Jazzhus de Odense em 29.01.07.
Domingo, 15.03.09 – Concertos Internacionais (3) – Don Thompson (vibrafone), Paul Galbraith (guitarra) e o trio de Terry Clarke (bateria), Reg Schwager (guitarra) e Jim Vivien (contrabaixo) e a música de Johann Sebastian Bach, num concerto realizado no estúdio Glenn Gould da Rádio Canadá em 28.09.07; e o trio de Mikkel Ploug (guitarra), Jeppe Skovbakke (contrabaixo) e Sean Carpio (bateria) com o convidado especial Mike Turner (sax-tenor) no Clube Jazz House (Copenhaga) em 24.03.07.
Domingo, 22.03.09 – Concertos Internacionais (4) – O Quarteto de David Murray (sax-tenor, clarinete-baixo) com Lafayette Gilchrist (piano), Jaribu Shahid (contrabaixo) e Hamid Drake (bateria) nos Estúdios Rolf Liebermann (Hamburgo) em 16.11.07; e a New Orchestra de Barry Guy (contrabaixo) em Vosteen, numa obra de Evan Parker, no ciclo de concertos Konfrontationen realizado no clube JazzGalerie (Nickelsdorf).
Domingo, 29.03.09 – Concertos Internacionais (5) – O duo de Enrico Rava (trompete) e Stefano Bollani (piano) no ACS Art Centre de Atenas em 02.12.06; e a big band da NDR – Norddeutsche Rundfunk, sob a direcção de Michael Gibbs nos Estúdios Rolf Liebermann (Hamburgo) em 06.09.07.
2 de Março de 1959 é um dia especial para o jazz. Há precisamente 50 anos, nesse dia igual a qualquer outro, Miles Davis, “Cannonball” Adderley, John Coltrane, Bill Evans, Paul Chambers e Jimy Cobb entravam no estúdio da Columbia, na 30th Street, em Nova Iorque, para gravar as primeiras peças que iriam mais tarde compor o line up de Kind of Blue, o mais referido, exaltado e popular álbum em todo o jazz.
O relógio da parede do estúdio marcava 14:30.
Rezam as crónicas que as primeiras peças a ser gravadas terão sido So What e Blue in Green, entre as 14:30 e as 17:30, e que, depois de uma pausa para descansar um pouco e jantar, Miles telefonou a Wynton Kelly para vir para o estúdio, afim de gravarem Freddie Freeloader, na sessão das 19:00 às 22:00.
Era, sem dúvida, um dia igual a tantos outros e uma sessão de estúdio que não se distinguia de qualquer outra, a não ser, evidentemente, pela qualidade superlativa de todos os músicos envolvidos. E, no entanto, nessa tarde e nessa noite – com prolongamento para nova sessão de estúdio realizada um mês depois, em 22 de Abril, na qual o álbum ficou completo – algo de especial começava a nascer, como tantas vezes aconteceu, acontece e acontecerá na história do jazz...
(Actualização: emendada data da segunda sessão)
Link solidário
O Tempo das Cerejas (novo link)
Links com Jazz
Cinco Minutos de Jazz (Antena 1 - Podcast)
Dave Douglas (Artist Thoughts)
Destination-Out (Jeff Jackson, NPR MUsic)
Escola de Jazz de Torres Vedras
Escola de Jazz do Barreiro (Alunos)
Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo (ESMAE)
Jazz com brancas (Antena 2 - Podcast)
Night After Night (Steve Smith - Time Out, NY)
NPR Jazz Site (National Public Radio, EUA)
Oh não! Mais um blog sobre jazz!
Secret Society (Darcy James Argue)
Thelonius Monk Institute of Jazz